A princípio, os discípulos ficaram anestesiados, depois
rapidamente fugiram.
Herodes queria um show.
Pilatos queria livrar-se do problema. E os soldados? Eles
queriam sangue.
Então açoitaram a Jesus. O chicote legendário consistia em tiras de couro com bolas de ferro em suas pontas. Seu objetivo era singular. Bater no acusado progressivamente até quase matá-lo, então parar. Trinta e nove chicotadas eram permitidas mas raramente necessárias. Um centurião monitorava o estado do prisioneiro. Sem dúvida Jesus estava próximo à morte quando suas mãos foram desamarradas e Ele caiu ao chão.
Chicotear foi a primeira ação dos soldados.
A crucificação foi a terceira. (Eu não pulei a segunda. Já vou
chegar lá.) Embora suas costas estivessem machucadas pelas
chicotadas, os soldados colocaram a cruz sobre os ombros de Jesus e o fizeram carregá-la até o monte da crucificação, onde o executaram.
Não culpamos os soldados por estes dois atos. Afinal, eles estavam apenas seguindo ordens. Mas difícil é compreender o que fizeram neste ínterim. Eis aqui a descrição de Mateus:
Então, soltou-lhes Barrabás e, tendo mandado açoitar
a Jesus, entregou-o para ser crucificado.
E logo os soldados do governador, conduzindo Jesus à
audiência, reuniram junto dele toda a coorte.
E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus!
E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com
ela na cabeça.
E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado. (Mt 27.26-31)
A obrigação dos soldados era simples: Levar o Nazareno até o monte e matá-lo. Mas eles tinham outra idéia. Queriam se divertir primeiro. Fortes, descansados e armados, os soldados cercaram um carpinteiro galileu exausto e quase morto, e o atacaram. O açoite fora ordenado. A crucificação ordenada. Mas quem teria prazer em cuspir em um homem quase morto?
O ato de cuspir não tem a finalidade de machucar o corpo — de forma alguma. O ato de cuspir é a intenção de degradação da alma, e muito eficiente. O que os soldados estavam fazendo? Não estariam eles elevando-se a si próprios à custa de outra pessoa? Eles sentiram-se grandes ao humilhar Jesus.
Você já fez isto? Talvez nunca tenha cuspido em alguém, mas já fofocou? Caluniou? Você já levantou as mãos enfurecidas ou levantou os olhos com arrogância? Já colocou os faróis altos no retrovisor de algum carro? Já fez alguém se sentir mal para você se sentir bem?
Foi isto que os soldados fizeram a Jesus. Quando você e eu fazemos o mesmo, fazemos isto com Jesus também. "E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mt 25.40). A maneira como tratamos os outros é a mesma como tratamos a Jesus.
"Ei, Max, não gostei desta frase", você protesta. Creia-me, não gosto de dizer isto. Mas precisamos enfrentar o fato de que há algo animalesco dentro de cada um de nós, que nos obriga a fazer coisas que surpreende até a nós mesmos. Você já não surpreendeu a si mesmo? Já parou para refletir sobre alguma atitude e pensou: "O que deu em mim?"
A Bíblia possui uma resposta com seis letras para esta
questão:
P-E-C-A-D-O. Existe algo ruim — animalesco — dentro de cada um de nós. "Éramos por natureza filhos da ira" (Ef 2.3). Não é que não possamos fazer o bem. Podemos. O fato é que não conseguimos evitar fazer o mal. Em termos teológicos, somos "totalmente depravados". Embora feitos à imagem e semelhança de Deus, temos caído. Somos corruptos ao máximo. O âmago de nosso ser é egoísta e perverso. Disse Davi: "Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51.5
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