sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Mais um episódio ocorrido enquanto trabalhava: Lembro de já ter rodado bastante a procura de um endereço, estava quase desistindo e voltando para o carro quando uma criança chegou correndo e gritando para eu esperar. Quando se aproximou ela perguntou qual era o nome da pessoa na ficha que eu tinha na mão, respondi, e ela me apontou a casa que no momento estava fechada, o que estranhei pois havia gente em seu interior e já eram 11:00 da manhã, a menina falou que era sua tia. Batí na porta e uma senhora muito jovem veio me atender entre alegre e desesperada, fiquei olhando pra ela tentando entender sua reação, estava com uma criança no colo que devia ter uns 12 meses de vida, comecei a fazer a entrevista de praxe, ela me disse que estava desesperada pois tinhas três filhos e era sozinha pra cuidar de todos, falou ainda que não tinha nada em casa para alimentá-los e havia comprado uma corda com a qual pretendia enforcar-se, mas no momento que estava arrumando atrás da porta eu cheguei. Confesso que fiquei chocada com a revelação, mas respirei aliviada por entender que se aquela menina não tivesse me encontrado antes que eu fosse embora, talvez quando retornasse para tentar a visita novamente encontraria a noticia do suicídio daquela mulher. Essa foi mais uma experiência que serviu pra reforçar a certeza no meu coração de que meu trabalho secular era também uma missão que Deus havia colocado em minhas mãos para fazer diferença na vida de pessoas como essa, pois depois que saí de sua residência pude articular junto aos orgãos competentes uma ajuda para ela, que alguns anos depois me agradeceu muito e isso me deixou bastante feliz.

A dor de se perder alguém...

De repente estavas aquí
E como um raio cortando o céu
Tua vida foi roubada
Vi-te inerte Lívido....
Desfigurado...
Silêncio cortante...
Onde antes eram só risos...
Agora só lágrimas...
A vida fugindo,
Espalhando se na terra;

No final da tarde
misturava-se ao ocaso
Céu de vermelho
E a dor gritante
Calada na alma Lágrimas...
E um grito de socorro.
Grito silencioso
Estampado no olhar de quem te amava
Ninguém ouviu...
Tantos sonhos

tantos projetos
Tantos amigos
Agora só vazio
E a lembrança da tua existência
...

Mensagem criada por ocasião do falecimento de meu primo Francisco Antônio, que foi morto de forma irresponsável por um policial que encontrava-se de folga e embriagado portando uma arma, tentando fazer pose perante as mulheres que o acompanhavam. Francisco morreu uma semana antes de completar 19 anos. Nunca foi usuário de drogas, não era farrista, nem baderneiro, ao contrário, era bastante tímido, mas teve a infelicidade de estar no lugar errado na hora errada e na mira de um irresponsável, que com certeza continua na rua fardado e ninguém imagina que seja um assassino...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A vida é uma surpresa a cada dia

Participamos de muitos treinamentos e capacitações para lidar com o público, com o qual estavamos trabalhando, mas nenhuma teoria supera a prática. Quando você depara com uma criança ou adolescente na esquina ou em um semáforo praticando mendicância, a primeira reação geralmente é de medo, eu confesso que era uma clientela que me causava medo até me deparar com a realidade de cada um. Lembro-me de um garoto que conhecí em frente à igreja da Sé, isso faz muito tempo, ao contrário dos outros que também estavam praticando mendicância no local, ele se mostrou sempre arredio e revoltado com a nossa presença. Com muito jeito e tempo, conseguí uma aproximação, foi ai que entendí o motivo de sua revolta, ele sabia que estávamos no local pra encaminhá-los para casa e conversar com seus pais, e era exatamente isso que não queria que acontecesse. Aos poucos contou que seus pais haviam se separado e sua mãe estava recentemente com um companheiro que além de não aceitá-lo, a maltratava, tendo o hábito de tornar-se violento quando estava alcoolizado. Como não sabia o paradeiro do pai acabou fungindo e estava morando na rua e sobrevivendo da mendicância. Percebemos que ele ainda estava livre de envolvimento com entorpecentes, mas sabíamos que se permanecesse nas ruas, logo estaria cheirando cola e a mercê dos traficantes. A situação foi apresentada aos órgãos competentes, infelizmente na época, não pude acompanhar o desenrolar do caso, mas nunca mais encontrei o garoto praticando mendicância. A surpresa pra mim nessa situação foi entender o fato de que na maioria das vezes quando alguém reage agressivamente contra a gente sem que haja motivo aparente, ou está tentando chamar atenção ou está pedindo socorro.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A dor alheia às vezes nos faz crescer...

Em 1996, eu estava desempregada, e um amigo, muito querido por sinal, me deu a oportunidade de trabalhar em um projeto com crianças de ruas, no momentto fiquei empolgada, afinal estava conseguindo um emprego, fui, preenchi um cadastro, voltei pra casa e esquecí...nesse mesmo tempo uma amiga me indicou pra trabalhar com um cliente, da empresa onde ela trabalhava. Deu certo, comecei de imediato...Três meses depois fui chamada para entrevista na instituição, devo confessar que o salário era muito atrativo, mas o fato de lidar com "trombadinhas", esse era o meu pensamento na época, me apavorou fiquei um pouco em "parafuso" mas enfim, larguei o emprego aonde estava e começei nessa instituição. O primeiro dia foi para fazer visita às familias de algumas crianças que já haviam sido cadastradas na rua...sinceramente? comecei a ver uma realidade que até então não sabia que existia, de chegar em uma casa, familia com 10 crianças pequenas, um casebre recostado com madeiras pra não desabar, e nada pra se alimentar, restando a opção da mendicância...Foi aí que comecei a amadurecer, passei 13 anos no projeto e amadurecí bastante com essa experiência que eu não gostaria de deixar esquecida....