segunda-feira, 9 de novembro de 2009
Aprendendo com a dor dos outros II
Ás vezes quando estou um pouco atribulada, eu tento tirar lição de alguns casos que vivenciei enquanto educadora. Essa semana lembrei-me do caso de três irmãos, na época eles tinham respectivamente 7,8 e 10 anos. Constantemente estavam em um dos maiores e mais movimentados cruzamentos de Fortaleza, o interessante é que eles colhiam algumas margaridas no jardim do parque e ofereciam às motoristas enquanto pediam trocado, esse gesto de gentileza comovia bastante o coração das mulheres que acabavam cedendo e dando os trocados que eles pediam. Eram uns garotos maravilhosos, atenciosos, educados e sempre nos atendiam quando falávamos com eles. Certo dia o mais velho estava chorando e tentei entender o motivo procurando falar com ele gentilmente. Não me disse nada por isso resolvi ir até sua residência conversar com a família, e encontrei sua mãe com quem iniciei uma entrevista, Pois uma das partes do nosso trabalho era exatamente essa: fazer visita domiciliar e investigar a situação sócio econômica da família. Era necessário entender o motivo porque as crianças estavam na rua, pois isso as colocava em situação de risco. Não me lembro o nome dela, mas a aparência era de uma mulher muito sofrida, que não me olhava enquanto falava, e permanecia de cabeça baixa. Percebi uns riscos nas paredes e ao perguntar o motivo, ela disse que o marido quando estava bêbado ameaçava tanto ela quanto os filhos com uma faca e os riscos na parede era ele afiando a ponta da faca. Tentamos ajudar essa família da melhor forma possível, para manter a integridade das crianças que não possuíam histórico de envolvimento com drogas e era exatamente isso que queríamos evitar. Mantivemos contato por algum tempo, levávamos os garotos ao Circo-Escola, conversávamos bastante com eles procurando dar o máximo de atenção principalmente por o fato de eles estarem constantemente nas ruas, queríamos o resgate de volta ao convívio familiar. Como eles moravam em comunidade construída em terreno invadido, o local foi desapropriado e todas as famílias remanejadas para casa cedidas pelo governo do estado em bairros diferentes foram então que perdemos o contato, mas no ano passado cerca de oito anos depois encontrei um dos garotos, já com dezenove anos, muito diferente da criança que conheci na verdade foi ele quem me reconheceu, contou-me muita coisa boa sobre sua vida principalmente a parte do resgate das drogas, está casado tem um filho pequeno, vive bem com a família, tem uma profissão, fiquei orgulhosa, pois de certa forma me senti participante da construção de sua identidade na infância, mas quando ele me falou dos outros fiquei triste, pois um deles foi morto pela polícia após assalto e o outro era pai de três crianças, mas residia em um barraco em situação de muita precariedade e sua esposa tem tuberculose. logicamente de tanto passar necessidade, trabalha como flanelinha próximo à area onde eu estava trabalhando, tentei contato com ele mas não conseguí, infelizmente não deu para fazer outras tentativas pois pouco tempo depois eu saí do projeto e perdí o contato com as pessoas que conhecem o assunto, mas essa é umas das histórias que conhecí e não esquecí.
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